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21/08/09 - 09h40 - Atualizado em 21/08/09 - 10h32

Berlim relembra maior vítima da indústria do doping que a queda do Muro revelou

Andreas Krieger precisou mudar de sexo por causa dos medicamentos que recebeu quando defendia a antiga Alemanha Oriental

Rafael Maranhão Direto de Berlim

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Não muito longe do Estádio Olímpico, onde a elite do atletismo compete no Campeonato Mundial, cerca de 30 pessoas se reunem em uma sala no campus da Universidade Médica de Berlim para lembrar as mais graves vítimas de doping no esporte de que se tem notícia até hoje. Uma história que mistura atletismo e Alemanha, duas Alemanhas, e que mudou a vida de Andreas Krieger. Alemão, 43 anos, ele nasceu Heidi, uma campeã europeia do arremesso de peso que precisou abandonar o esporte aos 22 anos por causa das mudanças em seu corpo, consequência das enormes doses de esteróides que recebeu e que a levaram a fazer uma operação de mudança de sexo em 1997. 

  

Montagem/Montagem

À esquerda, Heidi Krieger. À direita, Andreas Krieger. Embora de sexos opostos, são a mesma pessoa

- Todos os dias, quando me olho no espelho, vejo a imagem do que me aconteceu, do que define minha vida e de quem eu era. Eu disse uma vez que eles mataram Heidi porque eu não mudei apenas meu nome. Meu corpo mudou, minha vida mudou e eu precisei me tornar outra pessoa – afirma, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.


Para quem encontra Andreas, conversa com ele, observa seu rosto, suas mãos, é impossível dizer que ele um dia foi uma jovem e promissora atleta da antiga Alemanha Oriental. Heidi encerrou a carreira em 1988, dois anos depois da medalha de ouro no Campeonato Europeu de 1986, e sem ter realizado o sonho de disputar os Jogos Olímpicos de Seul. No ano seguinte, o Muro de Berlim caiu e os arquivos até então secretos do regime comunista revelaram a indústria do doping patrocinada pelo governo da Alemanha Oriental.

 

Milhares de jovens, selecionadas ainda na adolescência por causa de seu talento esportivo, foram submetidas a tratamento com comprimidos da substância turinabol, um esteroide anabolizante derivado da testosterona, o hormônio masculino, desenvolvido e patenteado por um laboratório da Alemanha Oriental na década de 1960. O medicamento aumenta a massa muscular e acelera a recuperação de lesões, fazendo com que atletas possam treinar por mais tempo. Por causa da composição semelhante à testosterona, o impacto é maior nas mulheres, que passam a desenvolver características masculinas, como crescimento de pelos e o tom de voz mais grave.


- Eu achava que estava mais forte por causa dos treinamentos, por estar levantando cada vez mais peso, não fazia ideia de que era por algo que me davam para tomar. Eu não quero ser um exemplo, mas sei por experiência própria o que pode acontecer. Eu passei por algo que poucos sabem o que é. Eu era uma mulher e virei um homem – afirma.

 

Heidi Krieger recebia maior quantidade de esteroides anabolizantes do que Ben Johnson, o velocista canadense pego no doping na final olímpica dos 100m em Seul, 1988. Nos anos 90, com dificuldades em continuar vivendo como uma mulher, Heidi assumiu a identidade masculina, mudou de nome e submeteu-se a uma cirurgia. Em 2002, Andreas casou-se com Ute Krause, ex-nadadora da Alemanha Oriental que também sofre com problemas de depressão e bulimia em consequência dos medicamentos que recebeu.


Na quinta-feira, Andreas Krieger esteve presente na cerimônia de entrega do prêmio que leva seu nome de nascença, a Medalha Heidi Krieger, criado em 2000 para a cada dois anos ser presenteada a alemães que combatem ou combateram o doping no esporte. O prêmio leva em seu interior a medalha de ouro de Heidi pelo título europeu em 1986. Este ano, três treinadores e um dirigente foram agraciados, dois deles vindo da antiga Alemanha Ocidental e dois, da Oriental. Quando entregou o prêmio à ex-treinadora de remo Johanna Sterling, Andreas chorou.


- Queria que Johanna tivesse sido minha treinadora na Alemanha Oriental. Por sua luta e coragem, ela se negou a dar substâncias proibidas às suas atletas. Minha vida teria sido diferente.


Andreas Krieger não assiste mais a provas de atletismo e não tem a menor vontade de passar perto do Estádio Olímpico de Berlim durante o Campeonato Mundial.


- Eu sei o que está acontecendo lá dentro e não consigo assistir, não suporto assistir ao que se passa lá. Muitos recordes mundiais foram alcançados graças à ajuda de substâncias químicas. Isso não mudou. Para mim, todos os recordes quebrados hoje em dia são conseguidos por doping.

 

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